Sobre o romance.
Tenho decidido escrever sobre o romance. Não posso dizer que tenho escrito sobre o amor, sob pena de o tornar uma coisa vulgar e que se pode sentir sempre.
Até pode. Mas vamos preservar o nome.
Quase sempre o sofrimento que se instala vem de um lugar de carência. Como se cada experiência que se somasse nos desse a sensação de que os vazios são preenchidos com um afecto exterior. E até pode ser assim. Mas sabemos que para racionalizar o discurso: temos de ser primeiro felizes connosco mesmos. Não posso negar o óbvio. Mas também não posso abafar o vazio que se instala bem no meio do peito, nem a cabeça em loop, nem a vontade de voltar a estar naqueles braços, naquele beijo, por vezes só naquele café, e ter aquele sorriso.
Há qualquer coisa de visceral na falta. Muitas vezes não vem do hábito, vem só do novo, do bom, do intenso. Do filtro recente que só nos permitiu ter a melhor parte da experiência: borboletas na barriga, sorrisinho doce na cara.
Na verdade o que sinto é que as coisas - em mim - se dividem entre o indiferente e o alucinante. Lembro-me da primeira vez, depois de muito tempo no indiferente, que senti a alucinação de perceber que alguém me poderia querer fazer sentir bem. Que o jogo do carinho se misturava com o jogo do prazer e eu acordava para a vida, enquanto adormecia naquele colo. Como se percebesse que afinal era possível. Sentir. Querer.
Depois disto tem vido sempre a dor. O abismo do vazio. Que nunca tem um closure. Que é sempre um ponto de interrogação. Que acaba como começou: sem se perceber bem porquê.
E somamos histórias, somamos sensações. Somamos lágrimas. Uns dias de tristeza, outros de desespero. E os lençois da cama encharcam-se de frustração, quando há tempos - mais ou menos próximos - se encharcaram de prazer.
Se fosse possível encapsulava o que senti. Para poder voltar ali sem doer. Só para voltar a sentir. Sem o medo de parecer carente. Sem ter de me expor ao desafio: uma e outra e tantas mais vezes.